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Amigos de sempre constroem respostas onde não as há
Havia um problema. Deram-se conta dele. Não existiam em Portugal boas respostas para acolher idosos. Pensaram que também um dia viriam a precisar de um lar diferente do seu. Como tinham boas memórias da Juventude Operária Católica (JOC) onde partilharam ações, trabalhos e projetos, decidiram, agora que já passavam dos 50, agir por conta própria e criar um lar para eles e para outros em igual situação. Foi em 1997. No próximo sábado 23 de novembro comemoram os 15 anos do polo comunitário Os Amigos de Sempre, a instituição que puseram de pé para responder ao sonho de então.
O polo comunitário é um edifício de cinco andares (dois subterrâneos) com vistas desafogadas num local tranquilo na ponta do Bairro da Esperança, em São João da Talha (Loures). Ali vivem 58 pessoas em regime interno a que se juntam outras 25 que frequentam o centro de dia. A partir do polo organiza-se o apoio familiar que acompanha quatro dezenas de pessoas do bairro e o transporte de idosos para consultas médicas e outros destinos. Há ainda outros projetos em desenvolvimento, mas estas são as principais valências que correm sob a responsabilidade da cooperativa de solidariedade social Os Amigos de Sempre.
Nada disto estava previsto como resultado daquele encontro de fim-de-semana do final dos anos noventa do século passado. De facto, quando juntou os amigos ex-jocistas na sua casa de Ribafria (Atouguia da Baleia) para uma almoçarada que se estendeu pelo fim-de-semana fora, Carlos Milharadas não queria mais nada do que proporcionar um encontro para celebrar a amizade que os unia desde os tempos de juventude. Na JOC tinham aprendido a olhar de frente os problemas concretos vividos pelos seus companheiros, debater as suas causas, perceber o que o Evangelho lhes exigia como resposta e, a partir daí, definir como e com quem agir. Foi essa tradição que os ‘tramou’.
Quando se puseram a conversar sobre familiares e conhecidos mais velhos que não conseguiam apoios para viver decentemente o seu final de vida terminaram, depois de muito discutir as causas de tais situações, por decidir agir. “Estivemos juntos na juventude. Colaborámos uns com os outros em várias lutas e atividades. Vimos o que estava a acontecer aos mais velhos que não encontravam lares onde fossem acolhidos. E pensámos: ‘isto também nos vai acontecer. Então, porque não nos mexemos para criar um grupo mais alargado que seja a base para criarmos qualquer coisa que responda às necessidades das pessoas?’”, conta Carlos Milharadas, sentado numa sala do polo comunitário onde conversa com o 7MARGENS.
A tarimba de conceberem com outros projetos de intervenção e de planearem ações em conjunto tinham-na toda. Clareza de princípios não lhes faltavam: “Seria um lar para nós, mas também para outros”; “queríamos criar uma resposta que não dependesse apenas do Estado, mas para a qual cada um contribuísse”; “teria de ser uma construção baseada na participação dos que viessem a usufruir dela”.